Filme “Carolina – Quarto de Despejo” busca resgatar a história de Carolina Maria de Jesus
O filme “Carolina – Quarto de Despejo”, uma adaptação da obra clássica da escritora Carolina Maria de Jesus, está em fase de produção e teve suas gravações iniciadas no dia 1º de novembro, no Rio de Janeiro. Uma grande recriação da favela do Canindé, nos anos 1950, está sendo construída para o filme.
Dirigido por Jeferson De, conhecido por trabalhos como “M8” e “Doutor Gama”, e protagonizado por Maria Gal, que também é produtora da obra, o projeto leva 11 anos para ser concretizado. Para dar vida à personagem principal, Maria Gal passou por uma intensa preparação, que incluiu perder mais de 18 quilos, mudar o visual e treinar por um ano com profissionais no Brasil e nos Estados Unidos.
Uma nova perspectiva sobre Carolina
A equipe do filme enfatiza que a abordagem é feita a partir de perspectivas negras, tanto de Maria Gal quanto de Jeferson De. A intenção é romper com o apagamento histórico da autora, que muitas vezes é lembrada apenas pela sua pobreza, sem considerar sua importância como escritora e seu impacto cultural.
Maria Gal afirma que trazer a história de Carolina para as telonas é uma responsabilidade. Ela ressalta que a falta de reconhecimento da autora, em comparação com figuras como Clarice Lispector, revela a necessidade urgente de dar visibilidade à sua obra: “Carolina merece ser reconhecida como uma grande heroína”.
A vida e o legado de Carolina Maria de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em 1914 em Sacramento, Minas Gerais, e teve apenas dois anos de educação formal. Morando na favela do Canindé e trabalhando como catadora de papel, ela registrou entre 1955 e 1960 sua rotina de fome, racismo e desigualdade em um diário de forte conteúdo social. Após ser descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, Carolina tornou-se um fenômeno literário. Seu livro, “Quarto de Despejo”, vendeu mais de um milhão de cópias e foi traduzido para 14 idiomas, consolidando seu lugar como a primeira escritora negra brasileira com reconhecimento internacional. Em 2026, sua vida será também retratada pela escola de samba Unidos da Tijuca.
O filme é uma coprodução entre as produtoras Move Maria, Raccord Produções e Buda Filmes, com o apoio da Globo Filmes e distribuição da Elo Studios. A Move Maria, fundada por Maria Gal, teve um papel fundamental na captação de recursos, com o suporte de empresas privadas. O elenco inclui nomes como Raphael Logam, Clayton Nascimento, Fábio Assunção, e muitos outros.
A proposta da adaptação vai além de contar a biografia de Carolina. O filme busca explorar como ela transformou sua dor em arte, criando um retrato social impactante do século 20. Além disso, será abordada a imagem muitas vezes distorcida da autora, que frequentemente é representada em sua pobreza, ignorando momentos em que apareceu bem vestida após o sucesso de seu livro.