domingo, 16 de novembro de 2025
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‘O agente secreto’ provoca desconforto e reflexões no público

Equipe de Redação
Equipe de Redação EM 16 DE NOVEMBRO DE 2025, ÀS 05:08
‘O agente secreto’ provoca desconforto e reflexões no público
‘O agente secreto’ provoca desconforto e reflexões no público

O Agente Secreto: Um Filme sobre Passado e Silêncio no Brasil

O filme O Agente Secreto, dirigido por Kleber Mendonça Filho e atualmente em cartaz nos cinemas, traz uma narrativa envolvente sobre pessoas que tentam escapar de seu passado para enfrentar o futuro. Com Wagner Moura no papel principal, a obra lida com questões de violência e as escolhas feitas por seus personagens, que optam pelo silêncio como meio de sobrevivência.

A história se passa durante o Carnaval de 1977 e segue Marcelo, interpretado por Moura, que retorna ao Recife após um tempo em São Paulo, onde sua reputação como pesquisador de tecnologia foi manchada após um embate com um influente industrial. O filme inicia de maneira impactante, com Marcelo se deparando com um corpo em decomposição logo ao chegar à cidade. A polícia, ao invés de investigar, procura tirar vantagem da situação, extorquindo Marcelo, que acaba oferecendo apenas um maço de cigarros.

Essa cena de abertura é um forte reflexo de um país que parece estagnado em suas lutas sociais e de segurança. Marcelo deixou seu filho, Fernando, de 5 anos, sob os cuidados do sogro após a morte da esposa. A trama se complica quando Marcelo se vê perseguido por dois pistoleiros contratados para matá-lo a mando do industrial que o ameaça.

A relação entre pai e filho é central para a narrativa. Na parte final do filme, já adulto, Fernando (também interpretado por Moura) demonstra desinteresse em investigar a morte do pai, afirmando que isso é mais importante para quem lhe entrega gravações sobre o caso do que para ele. Essa atitude reflete a escolha de ignorar um passado que pode trazer à tona traumas familiares.

O Agente Secreto se distingue ao mostrar o contraste entre enfrentar a verdade ou negá-la, algo que é visto de forma oposta em outro filme recente, Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles. Enquanto este último mostra uma mulher lutando contra as autoridades pela responsabilidade de um crime, O Agente Secreto apresenta um protagonista que evita encarar o passado.

Com uma duração de mais de 150 minutos, o filme oferece um thriller psicológico e político que pode capturar a atenção de grande parte do público, embora alguns possam achá-lo entediante. A direção de arte de Thales Junqueira e a fotografia de Evgenia Alexandrova criam uma atmosfera nostálgica que remete aos filmes brasileiros dos anos 1970, usando câmeras analógicas para reproduzir uma estética apropriada à época.

O elenco coadjuvante conta com atuações memoráveis de Maria Fernanda Cândido, Hermila Guedes e Luciano Chirolli, além de uma participação de Tânia Maria, que traz um alívio cômico em meio à trama pesada. No entanto, o destaque maior é mesmo Wagner Moura, que se destaca em sua interpretação multifacetada.

No filme, Moura não apenas representa Marcelo, mas também vive o filho Fernando, mostrando uma profundidade emocional que revela a complexidade das suas escolhas. Ele utiliza uma abordagem introspectiva para dar vida aos personagens, contrastando com uma narrativa que, em alguns momentos, pode parecer excessiva.

A presença de elementos surreais, como a lenda urbana da “perna cabeluda”, pode causar confusão, mas também resgata memórias cinematográficas, como Tubarão de Steven Spielberg, que ecoa na inquietação do espectador em relação ao perigo constante.

Fernando, ao crescer, optou por trabalhar em um banco de sangue, lidando com uma população vulnerável que vive sob a ameaça constante da violência. Diferente da família de Ainda Estou Aqui, que se junta na luta pela justiça, Fernando parece preferir a solidão e o distanciamento de um passado doloroso.

Apesar de suas qualidades, O Agente Secreto pode deixar o público com perguntas sem respostas. O enredo, que não dá explicações claras sobre várias situações, culmina em um final que não oferece a resolução esperada. Essa escolha narrativa, embora desconfortável, pode ser considerada uma ousadia artística.

O filme pode ter potencial de ser indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional, e Moura tem chances relevantes na categoria de Melhor Ator, considerando seu prestígio no cenário profissional. Contudo, O Agente Secreto é uma obra de autor que se distancia de apelos comerciais e possui uma estética mais alinhada com festivais de cinema, como Cannes, onde conquistou prêmios importantes.

Kleber Mendonça Filho, conhecido por sua abordagem única em filmes anteriores como O Som ao Redor e Bacurau, mais uma vez não busca um caminho fácil. O Agente Secreto é um filme que provoca reflexão e que, mesmo ao tentar comunicar-se mais pela razão do que pela emoção, consegue, em diversos momentos, cativar o espectador.

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